Julia - "E tudo era possível"





E tudo era possível

"Na minha juventude antes de ter saído
da casa de meus pais disposto a viajar
eu conhecia já o rebentar do mar 
das páginas dos livros que já tinha lido
Chegava o mês de maio era tudo florido
o rolo das manhãs punha-se a circular
e era só ouvir o sonhador falar 
da vida como se ela houvesse acontecido

E tudo se passava numa outra vida
e havia para as coisas sempre uma saída
Quando foi isso? Eu próprio não sei o dizer

Só sei que tinha o poder duma criança
entre as coisas e mim havia vizinhança
e tudo era possível era só querer"

Ruy Belo, Homem de palavra(s)






Não tinha outro jeito de começar este post. Comecei do mesmo jeito que a Julia me recebeu em sua casa, lendo um poema de Ruy Belo. Que, para quem não sabe, é um poeta português e o qual deu o nome a uma antiga escola que eu frequentei, em criança. Linda coincidência e mais estranho foi encontrar alguém tão novinho, aqui em São Paulo, que conhecesse sua obra. Esse ensaio já prometia, logo desde seu início. 











Desde nossa primeira conversa online, consegui perceber um pouco de quem era a Julia. Consegui perceber que ela era sonhadora, sensível, amante das letras e da natureza. Mas encontrá-la, conhece-la em seu habitat natural, foi uma experiência surreal. Um lugar onde ela se sente protegida, um lugar que a viu nascer, um lugar com memórias muito felizes e outras nem tanto. Mas nós somos assim mesmo. É isso que procuro em todos.








A Julia nunca tinha sido fotografada. Ela é naturalmente tímida, quietinha e muito dentro de seu mundo. Foi muito importante a gente se ter comunicando várias vezes antes de fotografar e ter sentado para partilhar experiências, momentos antes de eu pegar em minha câmera. 














Apesar de sermos de lugares tão distantes, tão diferentes e com alguma diferença de idades, achámos muita coisa em comum entre nós. Senti uma ligação com a Julia, logo desde a primeira conversa. 
Fiquei encantada com a forma como ela se movimenta, se comunica, sua introspecção e maturidade. Conhecer pessoas assim, só acrescentam mais amor ainda ao que eu faço.












Grande parte do ensaio foi feito em silêncio, apesar de pararmos um pouco de vez em quando para trocar uma ideia ou outra. Mas foi de uma leveza tal que eu nunca me senti tão relaxada ou conectada com alguém durante um ensaio. Não quis forçar muito a Julia com direções, pois eu sei que acabaria assustando ela. Eu fui no seu ritmo, me deixei levar por seus movimentos e respiração. 






















Estava planeado fazermos um segundo ensaio juntas, num lugar mais remoto ou rodeado de natureza. Até agora não conseguimos achar o local indicado, mas quero muito voltar a ter essa experiência com a Julia. Com certeza esse ensaio irá ser mais maravilhoso ainda.




















Enquanto fotografávamos dentro de casa, começou a chover bem forte. Eu senti o impulso de perguntar para a Julia: "Vamos fotografar na chuva? Quero muito fazer isso com você."

Eu nunca tinha fotografado debaixo de uma chuva forte daquele jeito. Mas eu senti que precisava de ir com ela. E valeu tanto a pena. Mesmo que as fotografias tenham ficado tremidas ou imperfeitas, era tudo o que a gente precisava. Se soltar, ser criança, fazer contato com a natureza, nem que seja por alguns minutos e dentro de um condomínio. Foi simplesmente libertador.
























Julia, você é uma pessoa inspirada e inspiradora. Com muita força, sensibilidade e amor, você vai conquistar o mundo. Não consigo deixar de agradecer vezes suficientes por me ter recebido em sua casa e por se ter envolvido de corpo e alma com meu projeto. Obrigada.


Abraço,

Filipa

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